segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Pablo Neruda

Eu não conhecia essa poesia. Ouvi ontem num sarau... achei divina!!!


Fábula da Sereia e os bêbados - Pablo Neruda

Todos aqueles homens estavam lá dentro, quando ela chegou totalmente nua.

Eles tinham bebido e começaram a cuspir.

Recém-chegada do rio, ela não sabia nada.

Ela era uma sereia que perdeu seu caminho.

Os insultos escorriam-lhe pela carne reluzente.

Obscenidades afogaram seus seios dourados.

Ela não chorou, pois não sabia chorar.

Não sabendo roupas, ela não as tinha.

Eles a enegreceram com rolhas queimadas e pontas de cigarros e rolaram de rir no chão taverna.

Ela não falou porque não tinha voz.

Seus olhos eram da cor do amor distante, seus braços duplos eram feitos de topázio branco.

Seus lábios se moviam, em silêncio, sob uma luz coral, e de repente ela saiu por essa porta.

Ao entrar no rio, ela ficou limpa, brilhando como uma pedra branca na chuva e sem olhar para trás, ela nadou mais uma vez.

Nadou para o vazio, nadou para sempre. Até morrer.







Nenhum comentário:

Postar um comentário