quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O que estamos fazendo de nós?



Ando pensando sobre o tempo. Ou melhor, sobre o que fazemos com o tempo.
Sobre a falta de tempo da maioria esmagadora das pessoas.

A gente tá a toda hora ouvindo alguém dizer: “nossa, como o tempo está passando rápido!” (todos nós já dissemos isso ao menos uma vez, né?). Eu também acho que está passando rápido, tenho essa mesma sensação. Lembro que quando era criança demorava um ano de Natal para Natal... E ainda é assim né? Mas o ano agora parece bem menor.

Mas se o tempo está tão mais curto, mais escasso, mas o que cada um de nós está fazendo com o seu tempo?

Porque se o tempo é curto precisamos beber cada segundo dele, aproveitar cada gota, sem desperdiçar, sem derramar, sem deixar para amanhã ou não perceber o tempo passar pensando no ontem.

Porque a gente tem o tempo tão curto. Porque estamos (ou nos sentimos) sempre tão ocupados?

As pessoas estão sempre muito ocupadas pois  fazem faculdade, trabalham o dia todo, precisam estudar para a prova, fazer trabalhos para entregar na faculdade (putz e já está atrasado, precisa ser entregue na segunda e já é sexta, precisa ser feito no final de semana a toque de caixa), terminar o relatório para o chefe (que é sempre urgente, tem sempre meia hora pra fazer). Tem o curso de inglês, de espanhol, de mandarim, de latim, de “venusiano” (todos cursos feitos porque o “mercado” pede, e afinal todos querem ser profissionais preparados). Sobrar tempo (afinal tenho que entrar no Facebook/Twitter, etc  por horas a fio, ler tudo que aparece que não tenha muita profundidade - porque se o texto for muito longo e muito “profundo” é melhor ler depois, agora não dá tempo), depois vou dormir um pouco, descansar não vaid ar tempo.

Poxa vida...
Só se preciso estudar TANTO para as provas porque não se estava presente na hora da aula. Eu não escutei mais que um “zumbido” enquanto o professor falava, enquanto alguns outros alunos davam suas considerações e o meu pensamento era:
-“Se esse trouxa não parar de fazer pergunta essa aula não acaba nunca” ou
- “Putz, professor chato, aula chata. O que é que ele está falando? Será que isso cai na prova?”
ou
-  estava conectado a alguma rede social pelo celular ou algum desses outros aparelhos móveis enquanto a aula corria e eu, que acho tão importante estudar, fazer esse curso, que foi escolhido por mim (ou pelo mercado?) porque quero ser um excelente profissional.
O professor sempre dá os trabalhos com um certa antecedência... mas eu estou sempre sem tempo pra fazer, afinal, tenho que me “conectar com o mundo”... A questão é: com qual mundo eu ando me conectando? As pessoas na minha vida são pessoas ou páginas na Rede Mundial de Computadores, vulgo Internet.

E o relatório pro chefe? Porque falta sempre meia-hora para entregar? Eu sei o que faço no meu trabalho? Ou tenho que parar e pensar cada vez que tenho que colocar isso no papel, que dizer pro cliente como está o andamento do trabalho? Porque o tempo é tão curto.

Tem 4 anos conheci uma pessoa e durante uma reunião no trabalho, falávamos de viagens, passeios (não lembro porque surgiu o assunto). Ouvi dessa pessoa a seguinte frase: “Eu e meu marido não pensamos em viajar, passear, etc agora. Agora só vamos trabalhar muito, juntar dinheiro aí quando formos velhinhos a gente usa o tempo para se divertir...” Eu perguntei a ela: “Como sabe que ainda vão estar vivos até lá?” (fez-se silêncio e a reunião voltou a seu curso normal. Fiquei um tempão sem ver essa pessoa. Reencontrei uns 6 meses atrás. A vida dela mudou muito. E o bacana é que agora ela quer viver o presente e o tempo para estar com ela mesmo e que o filho (que nasceu nesse meio tempo que não nos vimos) que ela teve é muito, muito precioso. Precioso agora, não daqui a alguns anos quando ela juntar bastante dinheiro.

Não quero negar aqui que a gente faça uma “porrada” de coisas todos os dias. Trabalhamos, estudamos, enfrentamos trânsito, correria... mas quantos de nós vive realmente cada momento desse? Quantos de nós lembra de uma coisa bonita no caminho que fazemos todos os dias? Quantos de nós olha e vê de fatos as pessoas que passam por nós, que sentam conosco no ônibus e no metrô? Quantos de nós fala REALMENTE “bom dia!” pro nosso colega de trabalho, pro cobrador e motorista do ônibus, pro senhor que entrega jornal na porta do metrô?
Ah, alguém aí já percebeu como estão as pitangueiras da cidade? Sim, eu to falando sério, vocês já cruzaram com um pé de pitanga carregado de frutas nos últimos dias nas ruas de Sampa? Pois reparem... eu até já comi algumas!

E dentro dessa correria as vezes sobra um tempo para sair com o amigo, colega, namorado, mãe, pai... e quando a gente faz isso, a gente está de fato com aquela (s) pessoa(s), vivendo aquele momento? Vou ao teatro, ao cinema, no parque com você, mas na verdade você e eu estamos apenas ali, no mesmo lugar, para assistir o mesmo espetáculo, mas eu estou sem tempo de conversar com você, de descobrir (ou redescobrir) quem você é, de te enxergar porque esse é um momento “livre” e preciso postar no Facebook e no Twitter que estou passeando, marcar o lugar e se possível tirar uma foto e colocar no Instragram! (afinal as páginas virtuais que são os meus relacionamentos precisam saber). E quem tá com a gente muitas vezes fica ali, boiando (especialmente se a pessoa for como eu, que gosta de conversar, dividir momentos com pessoas, de olhar no olho, de sorrir junto). Se vou jantar com alguém não é com essa pessoa que comento o sabor do bife, mas sim posto na rede social (se a pessoa estiver adicionada na sua lista virtual, ela vê seu comentário depois, e pode até curtir ou comentar), a mesma coisa acontece se assisto um filme, vejo uma peça ou qualquer outro momento que eu “divida” com alguém.

Em tempo! Eu não sou antitecnologia! Estou em redes sociais, adoro enviar e receber emails, escrever em blog,  etc etc. O que me incomoda é essa coisa “impessoal” e alienada. As pessoas não são mais GENTE, são PERFIS.
Se a gente parar pra prestar atenção tem gente que está postando milhões de coisas nas redes todos os dias, durante muito tempo por dia e se você enviar uma mensagem pessoas o máximo que você vai ter de volta é um “curtir” ou se a mensagem tiver pedindo uma resposta ela muito provavelmente será: “estou numa super correria agora, mas assim que tiver tempo te respondo”, ou ainda, muito tempo depois, você vai encontrar essa pessoa e ela vai te dizer: “ah, recebi a sua mensagem, mas não tive tempo de responder, desculpe”. Especialmente a pergunta pedir que a pessoa pense sobre algo para responder. Afinal, pensar é uma perda de tempo absurda de mais estando o tempo tão curto.

E os familiares com quem você cresceu junto, daí um dia, com saudade, você manda um email, falando da saudade, relembrando coisas de infância. A resposta geralmente é nenhuma... mas desses você sempre recebe “correntes” (que muito provavelmente nem leram antes de te enviar, exceto a frase final onde está escrito “você irá pegar catapora se não enviar para 500 pessoas em 2 horas”. Tem mais alguém aí que tem alguém na sua lista de conhecidos de email que só te escrevem para mandar correntes? Ou sou só eu que estou cadastrada num grupo chamado “envio de correntes” de algumas pessoas?

Ah, sim, eu confesso esses meus grandes pecados: Eu gosto de enviar uma mensagem de celular só pra falar “bom dia” quando a pessoa não está por perto e eu quero muito lhe desejar bom dia. Quando eu sinto uma saudade imensa de alguém que está longe fisicamente, ou sinto como se ela estivesse me chamando eu envio sim, a mensagem que for possível (seja uma oração, seja um “oi” por algum meio tecnológico, seja um sinal de fumaça). Isso me faz bem. Sim, eu “gasto” tempo fazendo algo que eu gosto por mais que pareça para alguns que seja bobagem. Sim, eu falo com gatos na rua e paro para acariciá-los mesmo que eu esteja “atrasada”. Sim, eu gosto, gosto muito de olhar no olhos das pessoas. Adoro “jogar conversa fora”. O tempo urge. Urge que eu viva.

As pessoas não estão mais presentes! Isso é terrível, e me incomoda horrores!

São tantas pequenas coisas, pequenos momentos, pequenas belezas que se perde... eu gosto tanto, tanto, tanto de olhar no olho, de conversar por horas a fio, de escrever um email pra alguém (sim! Eu gosto de tecnologia, de um “uso humano” da tecnologia) e receber resposta, de receber um email “pessoal” de alguém e poder responder... amo passear acompanhada de um colega, amigo... mas ultimamente confesso que tem sido mais interessante sair sozinha. Porque a gente está sozinha de qualquer jeito e ainda tendo que bancar a educada com alguém que nem está nos vendo.

E quando a gente tem aquela pessoa que sempre houve a gente quando a gente precisa conversar, sempre está ali, dando apoio, falando o que a gente quer e as vezes até o que a gente não quer ouvir mas que fazem a gente sentir um alívio enorme só pelo fato de alguém ter nos ouvido. Quantas vezes essa pessoa tenta falar conosco e a gente não ouve? Ou a corta enquanto ela fala, ou nem dá atenção, afinal... você tá sem tempo pra conversar.

Porque estamos perdendo a humanidade?

Trabalhamos e estudamos tanto pra que?

O grande e maior aprendizado está em viver e estamos deixando essa parte, VIVER, para quando? Se estamos sempre dizendo que o tempo está passando cada vez mais rápido quando é que vamos viver o tempo que temos, o agora que temos? Quando estivermos formados e ganhando bem pra caramba? Pra que?
Pra que eu preciso de dinheiro pra comprar aquele sorvete que dizem que é o melhor do mundo se eu nem presto atenção ao sabor dele? (simplesmente engulo)

Pra que eu quero fazer aquele passeio às ilhas gregas se as maiores lembranças que vou guardar de lá é o cheiro ruim do lixo deixado pelos turistas?

Pra que eu vou subir o Corcovado com chuva se não vou aproveitar aquele momento com o melhor que ele me traz porque vou estar mais preocupada em criticar os guias de turismo que me deixaram subir mesmo sabendo que ia chover e a vista “não ia ficar tão bonita”(será que não?)?

Porque eu estou tão PREocupado em saber “como será o amanhã” (responda quem puder...), quanto eu terei no banco amanhã, para onde ou vou viajar amanhã se hoje eu estou fazendo tudo automaticamente correndo contra o tempo?

Porque eu fico pensando no que já foi, no que fiz e não fiz? (enquanto eu tava pensando um Bem-Te-Vi pousou do lado de fora na caixa do ar-condicionado do escritório, me olhou e cantou, cantou, cantou exaustivamente... e eu nem vi. (e a única coisa que ficou registrada desse canto em algum lugar da minha mente atribulada foi: “ai, porque esse bicho não para de fazer barulho”).

Se é pra perder algum tempo com o passado, tenta lembrar, buscar no fundo da memória quais eram seus sonhos e anseios de quando era criança, de quando não se preocupava com o tempo. Correr na chuva? Ganhar uma bicicleta? Fazer um castelo de areia? Quanta coisa, dessas que você tem guardada lá no fundo da memória (naquele baú que já está cheirando a mofo, mas se você se atrever a abrir a tampa vai libertar borboletas multicoloridas que te farão sorrir) você realizou? Quantas ainda pode realizar? Quantas apenas te farão rir?

Graças a Deus ainda tem muita gente que para e gasta algum tempo com coisas essenciais! E eu tenho tentado ser uma delas.

Acho que quando a gente gosta de algo, ou alguém, ou alguma coisa ter um tempo pra isso é prioridade. Escolher as prioridades corretamente, pra não ficar pensando amanhã (se amanhã chegar) no que deixou de fazer hoje.
O texto parece ter ficado meio desconectado, muitos pensamentos que são no fundo um só que vão e voltam em cada parágrafo, coisas misturadas que são só uma vontade enorme de humanidade.

O tempo passar, o tempo voa e a poupança Bamerindus... (bom, o Bamerindus já nem existe mais).

Bom dia!

Rita Brafer – 28/11/2012