sexta-feira, 29 de junho de 2012

E que triunfe a força da imaginação


Sem mandamentos - Oswaldo Montenegro

Hoje eu quero a rua cheia de sorrisos francos
De rostos serenos, de palavras soltas
Eu quero a rua toda parecendo louca
Com gente gritando e se abraçando ao sol
Hoje eu quero ver a bola da criança livre
Quero ver os sonhos todos nas janelas
Quero ver vocês andando por aí
Hoje eu vou pedir desculpas pelo que eu não disse
Eu até desculpo o que você falou
Eu quero ver meu coração no seu sorriso
E no olho da tarde a primeira luz
Hoje eu quero que os boêmios gritem bem mais alto
Eu quero um carnaval no engarrafamento
E que dez mil estrelas vão riscando o céu
Buscando a sua casa no amanhecer
Hoje eu vou fazer barulho pela madrugada
Rasgar a noite escura como um lampião
Eu vou fazer seresta na sua calçada
Eu vou fazer misérias no seu coração
Hoje eu quero que os poetas dancem pela rua
Pra escrever a música sem pretensão
Eu quero que as buzinas toquem flauta-doce
E que triunfe a força da imaginação

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Quase tão perto

Te ver de quase tão perto mais uma vez.
Engraçado, parece que é sempre da mesma quase distância. Do mesmo local. Acho que se eu contasse seria o mesmo número de passos para chegar até você.
É como se eu tivesse ali de novo, do mesmo lugar, mesma distância em todas as direções, te vendo ali. A história era outra, mas ainda somos nós, eu e você.
Eu e você respirando o ar do mesmo lugar, a passos de quase distância. No mesmo espaço o meu e o seu fluídos energéticos.
É como se eu te conhecesse a milênios.
Eu prevejo cada passo, cada gesto teu e ainda assim me surpreendo e me vejo em estado de graça.
Vejo tuas mãos. Olho muito pra elas. Penso quantas vezes elas me tocaram, me acariciaram, me protegeram, me guiaram. Vejo que envelheceram um pouco, mas continuam tão minhas!
E os teus olhos! Quantas vezes sorriram pra mim... a tua boca, teus dentes sorriso. Teu corpo, teu jeito de andar, teu tudo. Tudo tão familiar, tão próximo, tão pele.
Volto as tuas mãos. Eu as amo! Você aperta quando segura outras mãos.
E volto aos teus olhos e quando eles parecem cruzar com os meus, por uma fração de segundos, o segredo é nosso. Te sinto. Te olho. Te vejo. E esse segredo é tão tão tão nosso.
Tua voz.
Tudo que acontece duas vezes acontece ao menos mais uma vez.
Da próxima vez falarei por dias do teu cheiro e do gosto de tua saliva. Falarei pra mim mesma. E pra você.
Nosso segredo.
Quase tão perto.

Rita Brafer - Junho/2012