domingo, 22 de janeiro de 2012

Coluna "Pensações"

(mais um da série "esvaziamentos". Texto escrito em 2010)

“Porque é tão difícil dizer aos outros o quanto gostamos deles?” (frase do livro “Ostra feliz não faz pérola – Rubem Alves)

Quando li a frase acima no livro citado, escrevi o seguinte:

Porque? Oras, porque quando uma pessoa sabe que gostamos dela, ela vai enfiar o dedo no nosso coração, sádica e lentamente, nos fazendo sangrar com um sorriso nos olhos vendo a nossa dor.

Depois o buraco fica lá. A pessoa quando precisa de novo da gente, sabendo que é “gostada”, afasta o dedo do buraco e com cara de inocente se oferece de novo ao nosso carinho. Mas o buraco fica lá. Arde um pouco pra sempre. Sabe ferida mal curada? Dói como gastrite, mas “gastrite no coração”. E os nossos olhos brilham um pouco menos. E fica cada vez mais difícil de dizer: eu gosto de você.

Por Rita Brafer

Coluna "Pensações"

Pensando... e ouvindo música. (texto escrito em 19/07/2009 - da série "esvaziamentos")



As vezes as coisas, algumas coisas, parecem tão injustas.

Penso já ter ouvido uma vez que nem sempre quem mais trabalha é o mais reconhecido. Sim, ouvi. Foi um professor de teatro uma vez, comentando uma cena que eu e um amigo tínhamos feito, escrito, apresentado... cada dupla tinha que escrever uma cena, apresenta-la e depois trocar com outra dupla para uma nova apresentação. Cumprimos nossa tarefa e depois tivemos que fazer a tal troca com quem não tinha cumprido a sua... e tivemos trabalho duplo! E ele fez esse comentário. Mas enfim, não reclamo, trabalhar é sempre bom, principalmente com o que a gente gosta.

Mas ainda assim, gostando da oportunidade de trabalhar e sabendo, tendo a consciência que nem sempre o esforço é reconhecido ainda não aprendi ser desprendida o bastante a ponto de não sentir dor, tristeza, desânimo e uma pontinha de mágoa quando me esforço, estou feliz com um trabalho e percebo que alguém envolvido tão de perto da bem pouco importância para minha participação nele, quando tenho a sensação que se eu não tivesse ali não faria diferença, e pior, que a minha presença serve apenas de pano de fundo para o que realmente importa para essa pessoa.

Aí, de repente, mais uma vez, um trabalho que pra mim é (ou era) tão meu fica tão alheio a mim, fico tão sem importância que me sinto a “atriz coadjuvante de um monólogo”.

Pra mim o “tamanho” dos papéis, das participações no teatro e na vida nunca tiveram grande importância e sim a intensidade é que importa. Mas tem coisas que minam o meu tesão, e me sentir insignificante e dispensável é “um pouco” pesado pra mim... mina meu tesão e me faz sentir mal.

Não sei, mas parece que meu trabalho de burro de carga é muito bem vindo, mas pára por aí,

Fico na dúvida: desistir e jogar a toalha ou dar o melhor de mim POR MIM. Busco essa mulher (essa personagem) em toda sua plenitude ou me visto de cinza e me apago nesse monólogo? Ou será que deixo a barba crescer e a ponho de molho?


(texto escrito durante os ensaios da peça “À Queima-Roupa, depois que o diretor me pediu para falar o texto fora da luz para dar mais destaque ao outro ator. O bom é que, na dúvida, optei por fazer o espetáculo POR MIM e descobrir "essa mulher" em sua plenitude e foi muito bacana viver a Eurídice, boas lembranças!)