domingo, 4 de janeiro de 2009

Começar e recomeçar.

Aqui estou finalmente para a minha primeira postagem...
Engraçado, criei o blog num dia que estava com muita vontade de escrever por ter presenciado uma cena que me fez pensar e fui adiando, adiando, adiando... bom, uma das minhas decisões de Ano Novo é: não adiar a minha vida! Então, lá vou eu! =)

A cena que me inspirou a criar essa página aconteceu num dia em que eu tinha saído de casa à tarde pra resolver coisinhas cotidianas, o sol estava "fervendo" e resolvi entrar no cinema e ver um filme antes de voltar pra casa. Quando saí do cinema ainda estava calor, era horário de pico, ônibus cheio (essas coisas todas) e como eu não tava com pressa, sentei no ponto de ônibus e fiquei lendo uma revista, resolvida a só pegar o meu ônibus quando passasse a "muvuca" toda. Tava lá distraída quando ouvi um homem, do outro lado da rua, aos berros... Ele gritava, protestava sozinho, pela demora dos ônibus. Os pontos (eu estava num terminal) estavam lotados, todos, os ônibus realmente demoravam muito, as pessoas estavam visivelmente cansadas de um dia inteiro de trabalho, mas... simplesmente esperavam de pé, naquela fila imensa, com seus olhares distantes e cansados e nada diziam, nada exigiam. Esse homem não, ele era igual a todos ali, mas ele gritava para o mundo a sua indignação. Ele tava embriagado, mas falava com uma propriedade impressionante, cheio de verdade. Só que os outros, todos nós que vivemos no mesmo "sistema" que ele, o olhavam como se ele fosse louco, como se o normal fosse simplesmente abaixarmos a cabeça e seguir na fila como bois rumo ao abatedouro. Comendo o capim que nos permitem. Vivendo como máquinas. Sem voz. Sem grito.
Esse homem não, ele saiu da "fila do abatedouro" e gritou o grito solitário do pensamento que está no peito de cada um de nós! E a única resposta foi o olhar das pessoas que o olhavam sem vontade de ouvir o que ele dizia (pois todos os dias nós mesmos trancamos aqueles gritos dentro de nós mesmos, talvez pela ilusão de que se fingirmos não ouvir, seja mais fácil "sobre"-viver) e e a voz de um fiscal da empresa de ônibus que disse: "cala a boca seu bêbado". O homem simplesmente respondeu: "Estou bêbado sim, mas tô defendendo os meus direitos. E você? Tá no mesmo barco que eu e defende a quem? Seu patrão?"...

Fico pensando... pq será que a gente silencia tanto e continua andando calmamente rumo ao abatedouro. Sem palavra, sem voz... Sem grito! E achamos estranho quando um "louco" grita para o mundo, aquilo que nós mesmos sentimos!

É... isso por enquanto! 

Por Rita Brafer

Um comentário:

  1. O post me faz lembrar de "O Alienista". A loucura está em quem? No lúcido ou no louco?

    Pois é... neste caso, nunca um bêbado foi tão sensato.

    E o que é melhor: ele incomodou.

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